131 - APELO

131  - APELO

Tu passas por aqui todos os dias,

todos os dias,

mas tu não me vês,

nem a mim,

nem a estes tantos outros

que têm igual sorte.

Tu passas por aqui todos os dias,

mas tu não nos podes ver;

tu passas como um relâmpago,

passas rápido,

como se asas tivesses...

o olhar tranquilo e manso,

e distante...

olhar despreocupado,

de quem não tem problemas.

No entanto,

o Brasil está nas tuas mãos!

No entanto,

os brasileiros estão nas tuas mãos!

No entanto,

és o dono,

ou um dos donos ,

de nossos caminhos;

e poderias,

se quisesses,

ter a solução para os nossos problemas.

Poderias,

se os sentisses.

Vem cá!

Deixa o teu carro,

dá folga ao teu motorista,

Só hoje!

(Basta-te um dia!)

Vem cá,

vem conversar comigo,

e com meus colegas,

temos tantas histórias para te contat!

Ouve-nos!

Claro, no início,

tu farás cara de incrédulo!

Tu franzirás as sobrancelhas,

e, por certo,

não acreditarás.

Mas nós somos muitos 

e vamos convencer-te,

e verás 

que as nossas histórias,

não são contos da carochinha,

ou comédias,

ou histórias de terror,

inventadas por alguém.

Tu verás

que as nossas histórias

são reais.

(E como são!)

Tu verás 

que os meninos de rua,

que muitas vezes,

vês pela televisão,

lá longe,

por trás das câmeras

tão distantes,

irreais,

tu verás

que somos gente,

que somos vivos

(Por incrível que pareça!)

que ainda estamos vivos.

("Meu Deus, como?"

tu dirás,

após ouvir a nossa história...)

Tu verás

e sentirás

que precisamos de ti, 

que precisamos 

de todos aqueles

que têm nas mãos,

o destino do país.

Vem!

Quem sabe

tu te comoverás 

até as lágrimas!

Quem sabe

chorarás conosco

o nosso infortúnio!

Quem sabe

 até esquecerás

que estás de terno novo,

que estás tão limpinho

e nos abraçarás.

Quem sabe

se não chamarás alguém,

teus colegas, talvez,

teus companheiros de governo,

e não os trarás

para que também conheçam

a nossa história,

para que também ouçam

o nosso apelo.

E então

tudo te será mais fácil.

Tu não terás que enfrentar

os semblantes incrédulos,

os olhares de desdém,

quando fores expor a nossa causa.

E assim, quem sabe,

teremos solucionados os nossos problemas,

os problemas,

dos meninos de rua,

dos tantos meninos

que perambulam sem destino,

pelas ruas e praças

deste rico Brasil,

deste Brasil,

que não é teu,

que não é deles,

mas que é nosso!

Vem!

Vem cá!

Ouve o nosso apelo,

e talvez encontremos juntos,

a solução para o nosso problema,

e então felizes,

deixaremos de ser

OS MENINOS DE RUA!

***