14 - DIAMANTINA SESQUICENTENÁRIA

 14 - DIAMANTINA SESQUICENTENÁRIA

  Quando chegamos a Diamantina, a cidade fervilhava: havia no ar um não-sei-quê de mistério, de entusiasmo, de agitação. Logo, logo, na escola, me contaram: a cidade se preparava para as festividades de comemoração do seu sesquicentenário. Dentre os preparativos, estavam os concursos de poemas, contos, lendas, etc. Ainda no clima de vencedora em Três Marias, procurei logo nos inscrever - a mim e à minha filha. Ela preparou uma coletânea de lendas da cidade que ficou uma beleza, ajudada pelo seu avô Moacyr e pelas pesquisas nas Bibliotecas. Eu esperava a poeira da mudança baixar para começar a escrever. Mas, à medida que os dias se passavam, e o meu conhecimento sobre a cidade aumentava, a idéia que eu tinha dela ia se transformando... e... para pior! Já havia ido a Diamantina algumas vezes, enquanto namorada e noiva do Waldívio, ou mesmo, depois de casada, nas férias escolares. Mas o contato era pequeno. E eu idealizara uma cidade fantástica, quase que, sem problemas! Quando comecei a conviver com seu povo, conhecer suas verdades, ficar por dentro de suas mazelas... os sonhos foram se desfazendo e comecei a me preocupar, a me entristecer! Eu não queria meus sonhos desfeitos! Não queria acreditar! Queria a Diamantina dos meus sonhos, lendária, fantástica, culta... como eu a imaginava...

Por isto, meu poema foi um grito de protesto! E, interessante foi que também recebeu o troféu de primeitro lugar. Parece-me que o povo - ou, pelo menos, o Corpo de Jurados - estava também insatisfeito com a, então, atual situação. E o que saiu foi o poema a seguir:

FALA, DIAMANTINA!

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Vamos, Diamantina! Levanta a tua voz! Ansiosos,

Teus filhos esperam ouvir de novo o teu falar!

Cada pedra tua é testemunha de atos gloriosos,

Cada pedaço deste chão tem uma história pra contar.

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Por que razão hás de curvar-te assim, mesquinha,

Tu que um dia foste e ainda és rainha?!...

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Fala, Diamantina! Tu que sempre rasgaste fronteiras,

Tu que, gloriosa, projetaste o Brasil de sul a norte,

Uma imagem vibrante, com voz firme e alvissareira,

Tu que sempre te mostraste altaneira, grande e forte!

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Por que razão hás de ofuscar-te o brilho imenso,

E o que conquistaste ser lançado assim ao vento?!...

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Fala, Diamantina! Reage! Grita alto e vibrante,

Que tu queres, mais uma vez, participar com dignidade,

Da vida do país, com um trabalho perseverante,

Com dinamismo, lutar por seu progresso e liberdade!

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Por que hás de permanecer-te na omissão,

Tu que sempre foste sinônimo de ação?!...

*****

És a esperança do Vale! A vida de toda esta gente,

Desta multidão sofrida que, a teus pés, confiante, espera,

Está inteira em tuas mãos, e a ti compete urgentemente,

A todos socorreres e mostrares que ainda imperas!

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Por que hás de ficar no anonimato,

Tu que tudo tens pra viveres no aparato?!...

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Fala, Diamantina! Mostra imponente ao mundo inteiro,

Que teus românticos luares brilham ainda, inspiradores;

E que, em teus poetas, corre ainda, sangue seresteiro,

Que, apaixonados, cantam ainda, tuas glórias, teus louvores!

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Por que hás de enclausurar-te triste e muda,

Tu que sempre foste e ainda és a nossa musa?!...

*****

Fala, Diamantina! Teus tantos filhos de além-túmulo,

Te cobram a garra, o grito forte, a vontade de vencer.

Permaneceres assim quieta, no casulo, é o cúmulo!

Vamos! Teu povo crê ainda em teu brilhante renascer!

*****

Por que hás de desfazer com a glória o enlace?!

Rasga este negro véu que te encobre a face!

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E fala de teu povo, tua raça, de teu imenso orgulho,

De tua cultura, teu rico folclore e tuas tradições!

Fala de tuas serras, teu solo, da seiva que borbulha,

De teu garbo, de teu brilho, teus sonhos e aspirações!

*****

Fala, Musa! Fala que eu te quero ver ainda,

Respeitada! E cultuada! E amada! E linda!!!

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É... parece que o grito de outrora - este e outros mais - 
realmente surtiram efeito porque Diamantina reagiu!!!

E hoje é PATRIMÔNIO NACIONAL DA HUMANIDADE!!!

VALEU, DIAMANTINA!!! NÓS AMAMOS VOCÊ!