66 - VIDA DOS ESCRAVOS
VIDA DURA TINHAM OS NOSSOS ESCRAVOS! CONHECEMOS HISTÓRIAS HORRIPILANTES, FATOS VERDADEIROS OCORRIDOS COM NOSSOS IRMÃOS ESCRAVIZADOS . UM DIA, BASTANTE SENSIBILIZADA, ESCREVI ESTE POEMA, REGISTRANDO, EMBORA DE FORMA FICTÍCIA, OS SOFRIMENTOS DE QUEM NÃO TINHA VEZ E VOZ, NUNCA, ALIADOS À MALDADE DE QUEM PARECIA TER NAS MÃOS TODO O PODER DO MUNDO! FICOU ASSIM REGISTRADA ESTA HISTÓRIA: (APESAR DE UM POUCO GRANDE, VALE A PENA LER!)
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66 --A UM PASSO DA LIBERDADE
(Tema: Libertação dos Escravos)
As chibatadas prosseguem... E ressoam ao longe!...
A fazenda inteira a ouvir... a suspirar!
Meu Deus! Por que razão se há de um ser humano
A um outro seu igual assim tanto maltratar?!
Chora a mulher na senzala. Traz em seu ventre
Um feto que estremece a cada chibatada.
“Meu Deus! Fazei que ele pare! Do meu esposo,
Tanto preciso pra criar a garotada!”
Dois filhos agarram-lhe a saia. Inda um terceiro
O seio espreme, escassas gotas a sugar.
Indignado, o mais velho, lá no eito, espreita,
E na casa grande a mocinha a lamentar.
A chibata cortante... A gotejar ao chão,
O vermelho vivo de seu dorso sangrento.
E a mãe aflita: “Meu Deus, fazei que ele morra!
Que morra agora! Pra que tanto sofrimento?...
Que mal Te fez ele? Bom filho e companheiro,
E um pai extremoso. Por que seus tristes ais,
Que geme agora, já sem forças, moribundo,
Por que, meu Deus, por que não os escutas mais?
Na curva da estrada, a poeira se levanta.
“Deus seja louvado! É o ‘sinhô’ que agita ao vento,
Um papel! (Que será?!) vai parar ao carrasco.
Vai dizer-lhe que basta. Meu Deus, ainda há tempo?”
Chega o senhor. E pára a chibata no ar.
Vê o que sobrou daquele negrão destemido!
Ágil, solta as cordas. Olha com ódio o carrasco,
E aflito, o corpo ensangüentado ali caído.
“Covarde! Que fizeste? Acaso te ensinamos,
A tratar assim com tamanha covardia
Àqueles que nos servem?... Meu pai, se vivo fosse,
Neste instante , por certo, te despediria!
Que mal te fez este homem? Por que invejas
O tratamento humano que a ele dispensamos?
É que... nosso primeiro choro, se não sabes,
Em casa e na senzala se deu no mesmo instante.
Desde então, a mim, meu pai o deu, de presente.
Crescemos juntos. Sugamos o mesmo seio,
As minhas travessuras, ele encobria sempre,
Assumia as minhas culpas, sem nenhum receio!
Há quarenta anos, eu o tenho. A seu lado,
Eu nada temia, pois que, forte e valente,
Protegia-me os passos, velava-me ao longe,
E brigando por mim, defendia-me aos dentes!
E agora jaz ao chão. Que justificativa
Apresentas tu, para tamanha maldade?...
Vamos, covarde, responde! Que te fez ele?
E para o teu bem, que não seja uma falsidade!”
“Senhor! Este escravo que aí tens a teus pés,
Tua confiança não merece. Enquanto fora,
Não trabalha direito - e faz coisas estranhas,
Que se outro fizesse, o mandarias embora.”
“Mas, o que foi que ele fez? Vamos! Dize logo!”
“Sim, senhor, digo: sem que ninguém lhe dissesse,
Trocou a roda do moinho, tranqüilamente,
Como se o dono fosse; tem o que merece.”
“Mas, homem de Deus! Que foi que te deu agora?
Por isto, levas assim à morte um irmão meu?
Pois eu te digo: a roda nova do moinho,
Quem lhe ordenou que trocasse hoje, fui eu!
Carrasco imundo! Hipócrita! Vai-te embora!
Que no Brasil, inda agorinha, a liberdade,
Acaba de ser feita! Toma este papel,
E podes ver que estou dizendo a verdade!”
(E exibia em suas mãos trêmulas, irritado,
O documento que mostrar aos negros vai.)
“Bem sabes que fui sempre contra a escravidão
E que é por isto, que entrava em atrito com meu pai.”
E em poucas horas, no terreiro da fazenda,
Só se ouvem músicas, gritos, folguedos, danças.
Mas, em volta do negro, a família, em prantos,
Chora a morte de quem não vê esta festança.
Chora, também, o irmão branco que queria,
Dar-lhe a notícia e abraçá-lo irmamente,
Não como a um brinquedo, ou a um anjo-de-guarda,
Mas como a um seu igual: livre e contente!
Pobre negro! Hoje, cem anos são passados,
Teus descendentes clamam ainda por justiça!
O racismo, o orgulho, a maldade de muitos,
Inda fazem, da tua cor, uma raça maldita!
E se as chibatas já não cortam o negro dorso,
Rasgam elas, fazem em tiras, sua branca alma;
Traçam sulcos, nos semblantes, os mais puros,
Transformando, lindos sonhos, em grandes mágoas.
Negro: se nos céus as suas glórias são louvadas,
E têm valor, o teu trabalho e sofrimento,
Roga a Deus que abençoe a tua raça,
Implora a Ele que atenda ao seu lamento!
E ilumine as consciências de outras raças,
Para a prática da justiça e da igualdade.
Pra que não vejam, no irmão , a cor da pele,
E façam todos, do amor, sua prioridade!!!
(Celina Carvalho de Queiroz Almeida - Diamantina- maio/1998)
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(Gostaria de colocar aqui
nesta página,
uma imagem de escravos
sendo maltratados;
mas... é muito triste;
fiquemos apenas com o poema
que retrata
tão feia realidade!)
(Tema: Libertação dos Escravos)
As chibatadas prosseguem... E ressoam ao longe!...
A fazenda inteira a ouvir... a suspirar!
Meu Deus! Por que razão se há de um ser humano
A um outro seu igual assim tanto maltratar?!
Chora a mulher na senzala. Traz em seu ventre
Um feto que estremece a cada chibatada.
“Meu Deus! Fazei que ele pare! Do meu esposo,
Tanto preciso pra criar a garotada!”
Dois filhos agarram-lhe a saia. Inda um terceiro
O seio espreme, escassas gotas a sugar.
Indignado, o mais velho, lá no eito, espreita,
E na casa grande a mocinha a lamentar.
A chibata cortante... A gotejar ao chão,
O vermelho vivo de seu dorso sangrento.
E a mãe aflita: “Meu Deus, fazei que ele morra!
Que morra agora! Pra que tanto sofrimento?...
Que mal Te fez ele? Bom filho e companheiro,
E um pai extremoso. Por que seus tristes ais,
Que geme agora, já sem forças, moribundo,
Por que, meu Deus, por que não os escutas mais?
Na curva da estrada, a poeira se levanta.
“Deus seja louvado! É o ‘sinhô’ que agita ao vento,
Um papel! (Que será?!) vai parar ao carrasco.
Vai dizer-lhe que basta. Meu Deus, ainda há tempo?”
Chega o senhor. E pára a chibata no ar.
Vê o que sobrou daquele negrão destemido!
Ágil, solta as cordas. Olha com ódio o carrasco,
E aflito, o corpo ensangüentado ali caído.
“Covarde! Que fizeste? Acaso te ensinamos,
A tratar assim com tamanha covardia
Àqueles que nos servem?... Meu pai, se vivo fosse,
Neste instante , por certo, te despediria!
Que mal te fez este homem? Por que invejas
O tratamento humano que a ele dispensamos?
É que... nosso primeiro choro, se não sabes,
Em casa e na senzala se deu no mesmo instante.
Desde então, a mim, meu pai o deu, de presente.
Crescemos juntos. Sugamos o mesmo seio,
As minhas travessuras, ele encobria sempre,
Assumia as minhas culpas, sem nenhum receio!
Há quarenta anos, eu o tenho. A seu lado,
Eu nada temia, pois que, forte e valente,
Protegia-me os passos, velava-me ao longe,
E brigando por mim, defendia-me aos dentes!
E agora jaz ao chão. Que justificativa
Apresentas tu, para tamanha maldade?...
Vamos, covarde, responde! Que te fez ele?
E para o teu bem, que não seja uma falsidade!”
“Senhor! Este escravo que aí tens a teus pés,
Tua confiança não merece. Enquanto fora,
Não trabalha direito - e faz coisas estranhas,
Que se outro fizesse, o mandarias embora.”
“Mas, o que foi que ele fez? Vamos! Dize logo!”
“Sim, senhor, digo: sem que ninguém lhe dissesse,
Trocou a roda do moinho, tranqüilamente,
Como se o dono fosse; tem o que merece.”
“Mas, homem de Deus! Que foi que te deu agora?
Por isto, levas assim à morte um irmão meu?
Pois eu te digo: a roda nova do moinho,
Quem lhe ordenou que trocasse hoje, fui eu!
Carrasco imundo! Hipócrita! Vai-te embora!
Que no Brasil, inda agorinha, a liberdade,
Acaba de ser feita! Toma este papel,
E podes ver que estou dizendo a verdade!”
(E exibia em suas mãos trêmulas, irritado,
O documento que mostrar aos negros vai.)
“Bem sabes que fui sempre contra a escravidão
E que é por isto, que entrava em atrito com meu pai.”
E em poucas horas, no terreiro da fazenda,
Só se ouvem músicas, gritos, folguedos, danças.
Mas, em volta do negro, a família, em prantos,
Chora a morte de quem não vê esta festança.
Chora, também, o irmão branco que queria,
Dar-lhe a notícia e abraçá-lo irmamente,
Não como a um brinquedo, ou a um anjo-de-guarda,
Mas como a um seu igual: livre e contente!
Pobre negro! Hoje, cem anos são passados,
Teus descendentes clamam ainda por justiça!
O racismo, o orgulho, a maldade de muitos,
Inda fazem, da tua cor, uma raça maldita!
E se as chibatas já não cortam o negro dorso,
Rasgam elas, fazem em tiras, sua branca alma;
Traçam sulcos, nos semblantes, os mais puros,
Transformando, lindos sonhos, em grandes mágoas.
Negro: se nos céus as suas glórias são louvadas,
E têm valor, o teu trabalho e sofrimento,
Roga a Deus que abençoe a tua raça,
Implora a Ele que atenda ao seu lamento!
E ilumine as consciências de outras raças,
Para a prática da justiça e da igualdade.
Pra que não vejam, no irmão , a cor da pele,
E façam todos, do amor, sua prioridade!!!
(Celina Carvalho de Queiroz Almeida - Diamantina- maio/1998)
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(Choro sempre quando leio este poema.
Terminei agora a leitura,
estou em prantos!
Porque sei
que muitas histórias
foram semelhantes a esta,
durante o período
da escravidão negra no Brasil.)*******
(Gostaria de colocar aqui
nesta página,
uma imagem de escravos
sendo maltratados;
mas... é muito triste;
fiquemos apenas com o poema
que retrata
tão feia realidade!)
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