Retalhos d'Alma

Meu Blog resume pedaços de vida, pingos poéticos, retalhos de um viver sem medo de ser feliz, sem receio do que possa vir amanhã pois sei que " o amanhã a DEUS pertence!" E o que vier, será bem-vindo. Como diz São Paulo: VIVER É LUCRO!"

23.4.07

61 - T I R A D E N T E S

O DIA 21 DE ABRIL JÁ FOI INTERESSANTÍSSIMO!
NESTE ANO DE 2007, COMO O FERIADO FOI NO SÁBADO,
POUCA GENTE SE LEMBROU
POUCO OU NADA SE FALOU DE INCONFIDÊNCIA MINEIRA,
DE HERÓIS DA INDEPENDÊNCIA... ESSAS COISAS ASSIM
QUE FAZEM O BRASILEIRO ENCHER-SE DE ORGULHO DE SUA TERRA,
DE SUA GENTE, DE HERÓIS, CONHECIDOS OU NÃO,
QUE LUTARAM E, MUITAS VEZES,
PERDERAM A VIDA PELA "PÁTRIA AMADA".
QUE PENA! E O PIOR DE TUDO ISTO,
É QUE O PRÓXIMO VAI DEMORAR UM TEMPÃO...
UMA VEZ, REGISTREI ASSIM MINHA PESQUISA
SOBRE JOAQUIM JOSÉ DA SILVA XAVIER:

61  -  TIRADENTES,
"Dez vidas eu tivesse, dez vidas eu daria."
*******
Dizem que eras filho de pai português
e mãe brasileira;
que eras o quarto de sete irmãos
e que o mais velho te ensinou a ler;
que dois deles se tornaram padres
e um terceiro chegou a capitão.

Dizem que ficaste órfão muito cedo
e moraste com um tio
até a maioridade,
quando então "ganhas o mundo",
um mundo feito de Brasil,
percorrido passo-a-passo,
em tuas andanças.

Dizem que eras mascate,
que tinhas uma grande tropa
e que a perdeste
ao defender um escravo
contra seu dono.
(Interessante a tua história:
estavas sempre a perder algo,
na defesa do mais fraco!)

Dizem ainda que eras médico
e dentista prático;
que tiravas os dentes
com sutil ligeireza
e outros novos colocavas no lugar;
dentes feitos por ti mesmo,
fortes e bonitos,
que pareciam naturais;
e entendias ainda
de artes farmacêuticas.

Dizem que sentaste praça
aos vinte e nove anos,
mas apenas chegaste a alferes;
que eras muito eficiente
na ronda do mato
e que desempenhaste
missões oficiais
da maior importância;
mas que apesar de tudo
não te promoviam,
embora merecedor
de posto mais elevado;
por isto tiraste uma licença
para trabalhar na mineração,
mas não deu certo.

Dizem que entendias bastante
de engenharia;
que trabalhaste em vários projetos
para a melhoria do abastecimento de água
da cidade do Rio de Janeiro;
mas que, desacreditado,
foste vaiado pelos teus planos,
planos estes que, mais tarde,
por sua viabilidade,
foram executados
por D. João VI.
Dizem que teus planos de liberdade
também eram viáveis,
e que tudo daria certo,
não fossem os traidores;
que pensavas realmente alto,
como um bom letrado;
que teus pensamentos eram semelhantes
aos do grande Jefferson,
a quem Joaquim da Maia
pedira ajuda.

Dizem que trazias no bolso
uma coleção de leis americanas,
presente de Álvares Maciel;
um livro muito importante,
escrito em francês,
o qual lias às ocultas,
com auxílio de um dicionário.

Dizem que os ânimos
cada vez mais se inflamavam;
que poetas e advogados,
padres e estudantes,
civis e militares,
maçons ou não,
uniam suas forças
e as encaminhavam
para um mesmo ideal,
apaixonados
pelas idéias novas
dos filósofos franceses
e revolucionários norte-americanos.

Dizem que foste à luta
mas que, traído,
e perseguido,
foste preso a dez de maio,
no Rio de Janeiro.
nem usaste o teu bacamarte -
não tiveste defesa!
Preso,
passaste quase três anos
incomunicável,
numa escura masmorra;
também teus companheiros,
foram presos em Vila Rica.

Dizem que, a princípio,
negaste a culpa,
porque esperavas
os outros depoimentos;
mas logo depois,
assumiste toda a responsabilidade,
inocentando os companheiros
e com dignidade e heroísmo,
enfrentaste a morte,
morte horrível!

Dizem que tua última caminhada
começou às oito da manhã;
que tinhas à frente uma fanfarra
e muita música;
a teu lado,
militares, o clero,
o executor e seus ajudantes;
e logo atrás vinha a carreta
que voltaria com o cadáver;
algemado,
tendo às mãos o crucifixo,
subiste ligeiro,
os vinte e quatro degraus
do imponente patíbulo,
construído de madeira nova
com grande requinte.
Eram onze horas
de um bonito sábado de sol:
vinte e um de abril,
de mil setecentos e noventa e dois!

Dizem que o teu corpo
foi esquartejado
e enviado
para Vila Rica;
a cabeça colocada
no alto de um poste,
e os pedaços enfeitavam
Cebolas,
Varginha do Lourenço,
Barbacena,
Queluz,
lugares que freqüentavas.

Dizem que morreste solteiro;
que pediste em casamento
a uma sobrinha do Padre Rolim,
mas que te foi negada,
por já estar prometida a outro.
Mas dizem que
de uma breve ligação
com Antônia Maria do Espírito Santo,
deixaste uma filha,
a pequena Joaquina.
(Que foi feito dela?!)

Pode ser que nem tudo
o que dizem a teu respeito
seja verdade.
Porém, deve ter muito de verdade
na tua história.
A República decretou feriado nacional
no dia do teu sacrifício!
És considerado hoje
o Patrono Cívico da Nação Brasileira
e da Polícia Militar!

Isto porque mereceste!
Isto porque lutaste
pela tua Pátria!
Isto porque deste a vida
pelo teu povo!
Porque conhecias
os direitos vitais do homem:
_ Direito à liberdade
_ Direito à felicidade
_ Direito ao trabalho livre.

Por isto
eu creio na tua história!
Acredito na crueldade
de um Silvério dos Reis,
de um Malheiro do Lago,
ou de um Pamplona.
Acredito na sabedoria
de um Gonzaga,
de um Alvarenga Peixoto,
e de outros intelectuais.
Acredito na poesia,
nos sonhos
e nos planos dos inconfidentes!

Mas acredito, sobretudo,
no teu heroísmo,
na tua dignidade,
no teu patriotismo!
E acredito sinceramente
no desperdício
de teu sangue derramado,
ao seres esquartejado.

O teu sangue
não poderia ser desperdiçado!
Ele deveria
ter sido injetado
nas nossas veias;
nas veias principalmente daqueles
que têm nas mãos o poder;
nas veias daqueles
que dirigem esta Nação,
muitas vezes
sem o menor civismo,
sem espírito de patriotismo.

Ah, Tiradentes, eu gostaria
de que o teu sangue corresse
por todo o corpo
dos nossos presidentes;
e que sobretudo
lhes subisse à face,
ao verem ultrajada
a nossa Pátria;
a Pátria que tu querias
que não aceitasse domínio
e que não mandasse suas riquezas,
o suor de seu povo,
para um outro povo,
para enriquecer aos poderosos!

Ah, Tiradentes,
eu gostaria,
imensamente,
de que uma gota
de teu sangue,
com a tua bravura,
com o teu patriotismo,
caísse nas veias
do nosso Presidente!

(1988 - Menção Honrosa no Concurso Newton Paiva - BH - MG)